não é fácil digerir um livro depois de "Um Dia".
tanto melhor é o livro quanto mais emoções desperta. abrir a porta, entrar devagarinho sem saber bem o que esperar... e ser surpreendido ao virar de cada página. "Um Dia" é assim. mas é assim também porque à medida que vamos lendo, vamo-nos reconhecendo nas personagens, nos lugares ou simplesmente numa frase, num pensamento.
"Uma Questão de Atração" surge num momento em que a expectativa é alta. chegar novamente ao leitor é tarefa complicada, sobretudo se da primeira vez foi quase tão fácil como respirar. deixamo-nos conquistar pelo humor, pelas referências temporais, musicais, cinematográficas ou culturais. mas apenas isso. não chega para cativar o espírito, sempre à procura de mais, sempre à espera que a reviravolta esteja no próximo capítulo. mas nunca chega.
tem gatos. tem jazz. e o fundo do poço já esteve mais longe...
No verão, todos os dias me sentava na varanda a ver passar o tempo. E todos os dias o tempo passava. Todos os dias via passar o tempo e o tempo passava sem me ver. Era assim que eu passava o tempo. Depois, descobri que não via passar o tempo, era o tempo que passava por mim e que a vida era apenas um frágil passatempo.
O tempo é sempre igual. Um compasso ordeiro e metódico, que em nada acompanha os desacertos do nosso coração - calmo num minuto, desvairado noutro. O tempo é sempre jovem, pois renasce continuamente na cadência certa. Ao contrário, nós envelhecemos, já que, ao inverso do tempo, somos matéria perecível. É por isso que o tempo não tem rugas, cabelos brancos, dores nas articulações. O tempo relega essas máculas para o nosso corpo ao passar por ele. Mas também relega experiências, sabedorias, memórias, assim saibamos colher esse pólen dos dias e transformar a vida em primaveras.
Aprendi que não posso ficar na varanda a ver passar o tempo ou vendo o tempo passar por mim. Eu tenho de cavalgar a eternidade das milésimas de segundo e morrer não de desgaste mas na exaustão de uma vida vivida. Ficar na varanda é não tomar decisões. E não agir é uma perda de tempo. É esperar que esse mesmo tempo cumpra a profecia bíblica de nos fazer regressar ao pó. Cabe-nos não morrer em vida. Não morrer antes do corpo. E se tivermos de regressar ao pó, este que deixe um rastro luminoso no firmamento da existência, que seja um cometa que se perpetue nas memórias dos que ficam.
João Morgado in Diário dos Infiéis
acabei de ler "Um dia" na praia. faltavam-me oito páginas, que andava a moer porque já sabia que o final era triste. pensei que ali, em frente ao mar, debaixo de um lindo sol de fim de tarde, não custaria tanto chegar à última página. mas custou, porque inevitavelmente a nossa experiência e a nossa vida tocam sempre (ao de leve ou não) alguma frase, parágrafo ou capítulos inteiros dos livros que escolhemos para nos acompanhar.
em espera tinha vários, escolhi este. leitura fácil. fácil demais. mas viciante. os clichés sucedem-se. mas as verdades relativas da vida de todos os dias também lá estão. e enerva-me não gostar da história por ser uma sucessão de frases feitas e lugares comuns, mas ao mesmo tempo não conseguir parar de ler por me sentir próxima daquelas personagens.
não recomendo para já. demasiado light e infeliz. para já...
a Feira do Livro é uma tradição que vem de criança. o passeio, as farturas, ver pessoas, apreciar o espaço... e, claro, voltar para casa com as mãos cheias de livros. infelizmente, a época não é para grandes gastos, mas ainda assim consegui trazer estes exemplares. não faltou a fartura, claro, porque as tradições são para se manter; o plafond foi bem gerido, mas temo não me conseguir conter e os que ficaram de fora ainda têm hipótese de chegar às prateleiras lá de casa numa segunda incursão à feira.
[entretanto, quando entrei na área de pavilhões da Leya, estava a começar esta música...]
ontem fui à Fnac e não ia comprar nada. fiz um esforço sobrehumano para resistir aos DVD e aos livros. mas este chamou-me, tenho a certeza que o ouvi chamar-me. li a sinopse... e não fui capaz de o deixar na prateleira. :)
"Apreciaram-se um ao outro durante um momento. Ele tornou-se a deitar e, após um momento, ela fez o mesmo e sobressaltou-se um pouco quando descobriu que ele lhe metera o braço por baixo dos ombros. Houve um momento constrangedor de falta de à-vontade mútuo quando ela se virou de lado e se enroscou junto dele. Apertando o braço à volta dela, ele falou-lhe contra o cimo da cabeça.
- Sabes o que não consigo compreender? Tens tanta gente a dizer-te a toda a hora o quão genial és, esperta e engraçada e talentosa e tudo o mais, sem parar. Eu já te ando a dizer há anos. Por isso, porque não acreditas? Porque julgas que as pessoas dizem coisas dessas? Julgas que é uma conspiração, as pessoas andam todas de conluio para te atacarem com palavras simpáticas?
Ela empurrou-lhe a cabeça contra o ombro, para o fazer parar, porque sentia que talvez começasse a chorar".
David Nicholls in Um Dia
. do tempo
. ...
. Histórias à cabeceira
. Não te deixarei morrer, David Crockett (2001)
. ***
. Histórias na prateleira
. Deixa o grande mundo girar (2010)
. A ilha debaixo do mar (2009)
. Uma noite em Nova Iorque (2011)
. Uma questã de atração (2011)
. ***
. Histórias a não perder
. The fighter - Último round (2010)
. I don't know how she does it (2011)
. ***
. Histórias para ver
. You will meet a tall dark stranger (2010)
. The kids are all right (2010)
. ***
. Histórias a evitar
. ***
. Histórias para ler
. Bombaim a um mundo de distância
. Não te deixarei morrer David Crockett
. Um dia