criar laços requer tempo, dedicação, dá trabalho. destruí-los demora um segundo. basta um "não quero mais falar contigo", virar a cara, ignorar, não querer saber.
um dia, quem sabe, perceberás essa dor. à terceira vez achamos que custa menos. mas não...
hoje acordei com aquela sensação estranha, que não chega a ser nada até se materializar, de que alguma coisa se passava. são assim os dias tristes: dias aparentemente normais, de que nos queixamos frequentemente, mas de que sentimos falta quando o abalo chega.
saí de casa, por um triz não tive um acidente de carro, ali mesmo, na rotunda grande. fui tratar de burocracias chatas, daquelas coisas sem nexo que nos fazem sentir que ser adulto às vezes é uma chatice. duas horas perdidas entre filas de espera, telefonemas, papéis. resolvido.
até que um telefonema muda tudo. a nós, apenas na cabeça. para ela, no coração, na vida. é quando paramos um pouco, respiramos e vemos que não somos nada. que perdemos demasiado tempo. que não somos quem queremos, não estamos com quem gostaríamos. dizemos poucas vezes "gosto de ti". vivemos contra nós. sobrevivemos. para no fim não haver nada. só vazio.
hoje é um dia assim, triste. mais um. que vai passar.
há sempre dois caminhos. um que conhecemos, que percorremos todos os dias de olhos fechados, sem surpresa, reconhecendo cada recanto, antecipando cada som, pelo meio dos prédios que já sabemos de cor, sem cor, sem vida, sem nada que nos reinvente.
há outro, normalmente junto ao mar, mais longo, mais difícil de percorrer, porque o que é novo assusta, tira-nos o sono, agita-nos os dias. é nele que redescobrimos que o céu é azul, que o momento mais bonito do dia é aquele em que o sol se põe lá longe. e é ele que nos faz querer despertar, procurar mais, sentir mais, conhecer mais.
é quase sempre mais fácil ficar do que partir. caminhar pelo seguro, pelo que conhecemos, pelo que é esperado.
mas no caminho, nesse caminho que percorremos só por hábito e que perdeu a magia de outros tempos, perdemos muito. perdemos essencialmente a oportunidade de saber o que a vida guardou para nós. e o momento de sermos felizes.
Em quase 7 anos de empresa, nunca, como agora, senti que esta casa estava “despida”.
“Despida” das pessoas que vão, de livre vontade, porque há lugares melhores onde ser feliz; “despida” de quem fez um caminho que chegou ao fim, fechando um ciclo; “despida” dos que vão e a vida não permite que voltem; “despida” até dos que, não tendo grande importância nos nossos dias, nos habituam à sua presença.
Entrar aqui hoje é sentir que há espaços vazios.
regressar ao Chiado, depois de tanto tempo, é sempre uma surpresa. há sempre coisas a acontecer, sítios novos para conhecer, recantos que não existiam. o almoço já tardio foi na Vertigo, onde o tempo parece não passar e a conversa flui, acompanhada por uma tarte de lima e um chá de frutos vermelhos. o passeio leva-nos à Bertrand, cujas prateleiras me transportam de novo para o tempo da faculdade, o cheiro para os dias em que o tempo era um luxo de que hoje sinto falta. a Muji, novidade absoluta para mim e onde encontrei tantas e tão boas sugestões para o Natal. e a tarde terminou na Santini, com a chuva a cair lá fora e um gelado para a despedida.
ver um filme e emocionar-me. ambicionar uma carreira assim. procurar o marido perfeito*. desejar dois filhos lindos como aqueles. querer que aquela seja a nossa história. imperfeita, como todas. mas com um final feliz.
e ver um nenuco pequenino a rir e a correr para junto da mãe para a acordar... e imaginar como será ter nos braços todo aquele amor.
* saber que já o encontrei e ele escapou... como a areia escapa entre os dedos.
não é fácil ter ideias para fazer com que não sobre mês no fim do ordenado. nem é garantido que todos tenhamos aquela ideia genial que se tem apenas uma vez na vida. as soluções económicas já foram aplicadas cá em casa e poupar vai parecendo por estes dias uma tarefa quase impossível.
dei voltas e voltas à cabeça à procura de alguma coisa que eu pudesse fazer e que não colidisse com a minha profissão nem com os meus horários. de que eu gostasse verdadeiramente. e que não me envergonhasse.
ora, confesso que é um bocadinho a medo que me vou aventurar na culinária. não costumo ficar mal vista com os doces ou salgados, mas tenho medo que a obrigação de os fazer acabe por deixar pelo caminho o ingrediente essencial: o carinho com que cozinhamos para as pessoas de quem gostamos. ainda assim, e porque acho que perdemos muito do que era importante e esquecemos o tradicional prazer que é estar à mesa a saborear um mimo feito em casa, vou arriscar.
acredito que é no regresso às origens que pode estar o nosso segredo para recuperar desta fase negra que atravessa o país. e, numa escala bem menor, para me realizar, fazendo o que mais gosto e tendo mais algum descanso no fim do mês.
talvez por ter nascido no verão, não fico particularmente entusiasmada quando, em finais de outubro (época tardia, mas o mundo anda do avesso), a temperatura começa a descer e o sol a por-se cada vez mais cedo. não gosto de frio. nem de chuva. nem de vento.
mas gosto, gosto muito, da sensação aconchegante de um casaco de lã, de uma manta no sofá, de um chá quentinho com mel antes de deitar, de umas bolachas acabadas de sair do forno. gosto até do cheiro a castanhas assadas na rua, apesar de não morrer de amores por elas.
ontem, embora estivesse uma temperatura normal para a época (dizer apenas que para mim 18 graus já é um frio de rachar!), tirei do armário a botija, enchi-a com água a ferver e confesso que os meus pés gelados agradeceram na hora de ir para a cama.
já está então tudo pronto: mau tempo, neura... só resta esperar pela mudança da hora no próximo fim de semana para dar de vez as boas vindas ao inverno.
don't forget to count your blessings.
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